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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Lore Ep.07 - Promessas, antigas e novas


Promessas, antigas e novas.

 Sombras em Innistrad




Uma centena ou mais de pares de olhos o observaram, por trás máscaras elegantes, enquanto ele atravessava o salão. 

Outra pessoa poderia ter se sentido como um rato em um ninho de corujas, mas não ele. Ele caminhou, seus passos ecoando pelo salão, interrompendo os todos sussurros que falavam o mesmo nome.

"Sorin Markov," disse uma voz "musical" acima dos
sussurros, uma voz ao mesmo tempo feminina e sarcástica, uma voz que formava cada sílaba do seu nome de tal maneira que deu Sorin a impressão de que uma piada estava por vir. 

Mas isso não importava. 

O que importava é que era uma voz familiar, e que pertencia à pessoa que ele tinha vindo aqui para ver.

"Parece que eu interrompi uma festa e tanto", Sorin disse, varrendo uma mão em um amplo arco antes de repousa-la em seu peito, em uma saudação debochada e teatral. "Por isso, eu sinto muito. Mas, por favor, Olivia, revele-se. Precisamos conversar." Ele examinou o salão, onde muitos vampiros se reuniam para participar das festividades pródigas oferecidas por sua anfitriã. Sorin já tinha participado de dezenas, se não centenas de tais eventos.

Mas há mais de mil anos abandonara tal hábito.

Por fim, um dos vampiros baixou sua máscara, uma peça de porcelana, moldada como uma zombaria da garça-real de Avacyn. Ela a jogou para o lado, e com o mesmo esforço que alguém faz para piscar, subiu no ar, em uma demonstração do poder que corria em seu sangue antigo.

"Eu não consigo imaginar algo que tenhamos que discutir, senhor de Innistrad", disse Olivia, inclinando-se na cintura. Era a sua vez de empunhar teatralidade e deboche, e ao redor do salão de baile, o riso irrompeu.

Sorin ignorou o insulto. Esta era a casa dela, afinal, e ela poderia ter sua diversão. Ele simplesmente devolveu seu olhar, fitando seu rosto pálido, emoldurado por cachos vermelhos grossos. Ele conhecia esse jogo. Ela pareceria superior a ele. Era uma performance que ela tinha praticado muitas vezes, mas ele não era um desses neófitos desesperados para conquistar seu favor, e ele não iria tolerar isso por muito tempo.

"O descendente de Edgar Markov não é bem-vindo aqui", ela continuou. Em seguida, ela fez um gesto para ninguém em particular. "Tirem-no daqui."

Sem hesitar, meia dúzia de vampiros emergiram dos celebrantes. Um deles puxou uma fina lâmina da bainha. "Lady Voldaren lhe pediu para sair", disse ele. "Aqui não é seu lugar."

Então, a paciência dele acabou.

A espada de Sorin desapareceu em uma sucessão de flashes, deixando cinco de seus atacantes se contorcendo no chão, ondas de vapor preto esvoaçante esguichando de feridas profundas. Apenas um permaneceu - o que sacara a espada. 

Em vez de revidar, Sorin para Olivia para se certificar de que ela estava atenta.

Ela estava.

Em seguida, ele levantou a mão, e quando o duelista se lançou contra ele, Sorin a fechou  , e, de repente, o corpo de seu atacante explodiu em uma dispersão de cinzas.

A sala ficou em silêncio. 

Ele tinha a atenção deles.

Mais importante, ele tinha a dela.

Ele embainhou sua espada, e deu um passo adiante. Havia uma razão para a sua visita, e por mais que isso trouxesse um gosto amargo à sua boca, ele disse:

"Eu preciso de  sua ajuda."

A boca de Olivia ampliou-se em um sorriso, até que seus lábios se abriram para revelar dentes que já tinham significado o fim de inúmeras vidas humanas através dos séculos. 

Ela flutuou para baixo, para ele, seus movimentos tão suaves que o líquido vermelho em seu copo mal ondulava. Apesar da elegância do vestido, ela estava descalça, tal como Sorin se lembrava. E agora, enquanto ela se aproximava, os dedos dos pés planavam, polegadas acima do chão de pedra polida.

Olivia encarou Sorin, inclinando a cabeça para um lado e depois do outro, como se tentando entende-lo. 

"O meu socorro? E aqui eu estava convencida de que esta seria uma visita desagradável."

Sorin sabia que ela iria apreciar isso, mas ele estava ficando impaciente.

"Bem, pelo menos esta será uma festa memorável", disse ela, pontuando sua observação, levantando o copo, e derramando seu conteúdo em sua boca. 

Em seguida, Sorin foi forçado a mover-se para o lado, quando Oliva passou por ele. A multidão de foliões mascarados abriu passagem à progenitora Voldaren, que calmamente acenou com a mão - um convite para Sorin a seguir.

O par de vampiros antigos fez o seu caminho através de uma sucessão de aposentos, cada um cheio de convidados da festa.

Em um estúdio mal iluminado, Sorin observou um punhado de vampiros amontoados em uma extremidade do aposento, de onde um gemido fraco, mal forte o suficiente para merecer a atenção, emanava do seu centro. Um dos vampiros olhou para Sorin, e, com sangue escorrendo pelo queixo, rosnou irritado com a intrusão. Além dele, Sorin vislumbrou um braço estendido com fitas de vermelho escorrendo pelo seu comprimento.


Olivia conduziu Sorin além do estúdio, até uma enorme sala de jantar -  um longo corredor, cavernoso com uma dúzia de candelabros espaçadas sobre a extensão de uma elegante mesa, talhada em madeira preta. 

Em torno dela, mais dos convidados de Olivia estavam reunidos, banqueteando-se com alimentos decadentes e bebendo. Era uma sala que Sorin lembrava bem de suas visitas anteriores, e ele sabia que Olivia  tinha tomado o  caminho mais longo até aqui. Ela queria que ele visse a alimentação, queria ostentá-la. 

Ela deve ter pensado que iria atingi-lo.

Quão pouco ela entendia.

"Fora", disse Olivia. Embora tenha soado menos como um comando e mais como uma sugestão brincalhona, os convivas obedeceram. Com a sua partida foram-se os sons de celebração. No momento em que Olivia e Sorin tomaram seus assentos no final da mesa, o quarto estava em silencio.

"Por aqui, Sorin Markov?" Olivia perguntou. "Por que não ir mendigar em sua própria porta?"

"Vou assumir que você ainda não saiba." Olivia levantou uma sobrancelha. "A mansão do meu avô não existe mais."

Olivia riu, e foi a menos melódico do que Sorin esperava.

"Você acha a notícia divertida?" ele disse.

"A notícia não é divertida", disse Olivia. "O mensageiro, no entanto ..." Com enorme graça, ela caiu nas almofadas da cadeira. "Se a Mansão Markov está em ruínas, então procure Avacyn, sua própria criação. Ela já destruiu o Castelo Falkenrath e toda a sua linhagem. Sua criatura está louca. Francamente, o fato de que eu não rasgá-lo em pedaços quando você manchou minha casa é uma marca de minha generosidade ".

"Eu vou deixar isso passar, Olivia, porque eu preciso que você ouça atentamente o que eu vou dizer."

 Ele se levantou de seu assento e se inclinou sobre os nós dos dedos. "Acabo de vir da Mansão Markov. Saiba isso – ela não teve o mesmo fim que o Castelo Falkenrath. Eu vim até você, porque a ruína da Mansão Markov marca o início de algo terrível para este mundo."

“Algo terrível para você, certo?”

Por que não? De fato era algo terrível para ele, mas isso não afastava o perigo do resto de Innistrad. 

Essa nunca fora sua intenção.

E seus pensamentos vagaram para uma outra era.
__

A consciência de Sorin tinha se perdido nas semanas que ele tinha passado aqui. Ou foram meses? Anos? 

Ele não poderia saber, mas no meio de seu transe, uma mancha de branco o encontrou. Passou através de todas as camadas de sua consciência, crescendo mais a cada momento, até que, finalmente, o tocou. E então, no espaço de um piscar de olhos, as partes rebeldes de sua mente atropelaram-se, tentando encontrar seus lugares corretos em seu ser. 

A sensação foi quase grande demais para ele suportar. Algo estava errado. Algo lhe tinha puxado, prematuramente, de sua restauração.

Quando seus olhos se abriram, Sorin viu-se sentado no chão de pedra de um santuário modesto. 

Lentamente, ele se levantou, uma tarefa que exigiu mais esforço do que deveria. Ele ainda estava enfraquecido, esgotado. 

Enquanto erguia-se com pernas bambas, ele notou uma mancha escura que se estendia por todo o chão - uma sombra negra permanente no santuário, na forma de um anjo, um testemunho da magnitude da seu recente esforço, de sua criação.

Em seguida, a luz branca, mais uma vez explodiu na cabeça de Sorin, e com a névoa do transe levantada, ele reconheceu o que era aquilo - a assinatura de outro Planinauta entrando em Innistrad, indo para a sua Câmara Infernal.

A recuperação teria que esperar. Innistrad era sua, e os visitantes poderiam permanecer aqui apenas com sua permissão. Ele deveria descobrir a intenção do visitante. Se chegasse a ponto de haver um duelo, lutar em seu estado atual estaria longe de ser ideal, mas uma ameaça para o plano era inaceitável. Mesmo debilitado como estava, ele ainda era  mais formidável do que a maioria, e, além disso, desta vez ele teria ajuda.

Em uma explosão de fumaça, negra como tinta, Sorin Markov partiu para descobrir quem ousara intrometer-se em seu plano.

Outra explosão de fumaça e Sorin materializou-se na sombra de uma árvore retorcida, cujas ramificações terminavam em grupos de folhas vermelhas. 

De onde estava, a cortina de nuvens cinzentas servia como pano de fundo, contra o qual um pedaço monolítico de prata repousava em um promontório, na borda de um penhasco.

Na penumbra, a massa de prata parecia quase preta. A Câmara Infernal tinha vindo de lua de prata de innistrad, e fora preciso um grande esforço para Sorin para trazê-la aqui.

Enquanto ele observava, uma figura surgiu por trás da câmara. Uma mulher pálida, com cabelos brancos caindo sobre o rosto de maneira desgrenhada. 

Com as pontas dos dedos, ela tocava a superfície áspera da Câmara Infernal. Ela usava trajes simples, com uma faixa vermelha em torno de um antebraço servindo como seu único enfeite.

Sorin a reconheceu imediatamente.

A lithomancer.

Nahiri.

Ela era uma kor de Zendikar,  que ele tinha conhecido há milênios. Eles tinham viajado juntos por um tempo, mas não se viam há muitos anos.  Vê-la aqui em Innistrad, desconcertou Sorin. Em todas as suas viagens, ele nunca a trouxera aqui. Seu último encontro tinha sido em seu plano natal, e, por causa da natureza de sua despedida, ele nunca pensou que ele iria vê-la novamente.

E ainda assim, aqui estava ela.

No momento, Nahiri parecia cativada pela Câmara Infernal, de modo que Sorin se aproximou em silêncio.

Se alguém poderia realmnete apreciar o que ele tinha feito, seria ela.

"Você vai ter que perdoar a minha tentativa rudimentar de moldar pedra, minha jovem", disse ele, em pé atrás dela. 

Ao ouvi-lo, Nahiri virou-se. Seu rosto abriu-se num sorriso largo quando ela tropeçou em suas primeiras tentativas de uma resposta até que, finalmente, as palavras saíram de seus lábios.

"Meu amigo! Você está vivo!"

"E por que seria o contrário?" Ele manipulou os músculos do seu rosto para formar um sorriso, e estendeu a mão para coloca-la sobre o ombro dela.

"Você nunca veio." Ela cobriu a mão dele com uma das suas. "Em Zendikar, quando eu ativei o sinal no Olho de Ugin, você nunca respondeu. Eu temia -"

Sorin retirou a mão. "Os Eldrazi escaparam de suas amarras?"

"Sim."

Uma amargura cáustica subiu na garganta de Sorin. "Onde está Ugin?" Ele perguntou.

"Ele não veio também", disse Nahiri, olhando para Sorin. "Mas eu lidei com isso. Sozinha. Com toda a força que pude reunir, consegui selar a prisão dos titãs". 

Ela falou com uma confiança que Sorin não se lembrava. Havia, agora, poder nela que não estava lá quando eles se conheceram há milhares de anos.

E, de repente, ali com Nahiri, Sorin tornou-se muito consciente de seu próprio estado enfraquecido.

"Quando terminei, eu vim procura-lo," Nahiri continuou, "eu tinha que saber se você ainda vivia. E aqui está você." Depois de um momento, o sorriso de Nahiri lentamente desapareceu. "Então, onde você estava? Sorin, por que você não respondeu ao sinal?"

"Nunca me alcançou", disse ele.

"Como isso é possivel?"

"Hmm." Sorin estendeu o braço por Nahiri e pressionou sua mão contra a superfície da Câmara Infernal.

 "Você dedicou-se a vigiar os Eldrazis, e tornou-se claro para mim que meu plano natal também tinha uma extrema necessidade de proteção, particularmente em minha ausência. Esta Câmara Infernal é metade do que eu criei para servir como tal proteção. Não é inconcebível que o sinal foi incapaz de romper a mágica que protege o plano ".

Nahiri sacudiu a cabeça. "Você sabia que que isso iria acontecer?"

"Não, me ocorreu a possibilidade", Sorin respondeu.

Era verdade, mas ele sentiu um tom de acusação na pergunta, e ele se viu pesando suas palavras. "Apesar de eu ver, agora, que ela existia."

"Uma possibilidade? Você arriscou o meu lar, e muito mais." Havia mágoa em sua voz. "Você me abandonou."

Sorin fez um gesto de desdém com as mãos. "Eu estava simplesmente tomando as precauções adequadas para proteger o meu plano. Dificilmen-"

"Tínhamos um acordo, você e eu" A voz de Nahiri de repente mudou. Era gelada, desprovida do calor de apenas um momento atrás.

Um silvo agudo escapou entre os dentes de Sorin e Nahiri deu um passo na direção dele, só para ele virar as costas para ela.

"Não me ignore", disse ela. "Eu estava disposta a colocar em risco a minha casa, atraindo os Eldrazi para lá. Tornei-me prisioneira em meu lar, para vigiá-los. Passei milênios com esses monstros. Você sabe o que é isso?" Enquanto falava, o chão começou a tremer. "Tudo o que tinha a fazer era vir quando eu precisei de você."

"Não presuma possuir comando sobre minhas ações, jovem", Sorin respondeu, batendo a mão de Nahiri para o lado. "Eu sou não sou obrigado a nada. Eu não lhe devo nada! Quando você ascendeu, fui eu quem a encontrou. Eu poderia ter acabado com você lá, mas eu a poupei." Ele se virou para ela, e de repente, seu rosto estava há apenas polegadas do dela. Em um sussurro, ele continuou, "Eu te acolhi debaixo da minha asa, e te moldei no que você é. Se você acha que é necessário incomodar alguém, vá encontrar Ugin. Não tenho paciência para isso."

A terra sacudiu violentamente, e por um instante, Sorin teve que lutar para manter-se em pé.

Sob os pés de Nahiri, uma coluna de rocha surgiu do solo, elevando-a no ar. "Eu não vou para lugar nenhum."

___

Sorin pegou o copo de cristal para inspecionar o conteúdo vermelho dentro. Uma película fina tinha começado a formar sobre toda a sua superfície. Entre dois dedos pálidos, Sorin torceu a delicada haste do vidro, de modo que a película cedeu e o líquido fluiu livremente. Ele levantou o vidro fazendo com que a luz do candelabro o atravessasse, e ele observou formas de luz vermelha esticando-se ao longo dos talheres na mesa.

"Você sabe por que eu criei Avacyn, Olivia?" Sorin disse finalmente. Com a menção desse nome, o sorriso dissolveu-se do rosto de Olivia, e Sorin permitiu-se obter uma certa quantidade de prazer nisso. "Eu criei ela para proteger esse mundo."

Olivia estalou a língua - Sorin cheirou o sangue no copo antes de bota-lo de volta na mesa - "Uma protetora", ela gritou. "Você se atreve a vir a minha casa e perturbar meus convidados com este absurdo?" Era a sua vez de se levantar de sua cadeira. "Nós não temos falado desde sua traição-desde que você envergonhou o nobre nome de seu avô. O fato de você sentar aqui na minha frente na minha própria mesa é uma vergonha que eu vou ter que suportar. Mas, se você acha que eu vou tolerar sua tentativa se fazer de heró- "

"Você já terminou?" Sorin interrompeu. Ele não estava aqui para justificar-se. Não para ela - Ele estava aqui para explicar algumas coisas. 

"É verdade que o nosso presente da longevidade é muitas vezes emparelhado com a miopia, mas há pessoas que são ameaças maiores do que a nossa alimentação excessiva."

Olivia bebeu o sangue restante de seu copo.

"Uma dessas pessoas", Sorin continuou, "veio para cá, e ela ameaça todo o nosso mundo. Eu não posso permitir isso."

___

Sorin ergueu o olhar para Nahiri, que pairava sobre ele, em seu pilar de granito. 

Em volta deles um campo de pedras flutuavam no ar, desafiando a gravidade em favor de um mestre mais poderoso. Era um exército obediente à espera de um comando. Mesmo com o vento soprando pelo cabelo de Sorin e batendo no couro de seu longo casaco, as  pedras permaneciam imóveis no ar.

Parecia, para Sorin, que todo o plano estava segurando a respiração.

Não havia dúvidas do poder que Nahiri agora controlava, o poder que tinha amadurecido com ela. A pedra não mais se limitava a obedecer ao seu comando. Era parte dela, e através dela, ela poderia atravessar Innistrad e deixar seu plano em ruínas.

A única pedra que permaneceu além da influência de Nahiri, parecia ser a Câmara Infernal. Então, Sorin tinha colocado-se de costas para ela, de modo a não poder ser atacado por todos os lados. Se ele estivesse com sua força intacta, ele acabaria com isso sem muitos problemas. Mas sua energia ainda estava debilitada, e, enquanto se apoiava sobre a sua espada para manter-se em pé, ele amaldiçoou a si mesmo.

Com um som como ossos estalando, Sorin assistiu o pilar de Nahiri mover-se, carregando a lithomancer lentamente para ele. As pedras se separavam abrindo passagem, e quando ela passou por uma laje alongada, ela mergulhou a mão nela tão facilmente como se em uma lagoa. 

Depois de um momento, toda a pedra ficou vermelha, e, em seguida, quebrou em um milhão de peças até que tudo o que restava era uma espada totalmente formada na mão de Nahiri. A lâmina ainda brilhava, branca, fresca de sua pedra-forja, e Sorin se viu no fim de sua ponta branca.

"Sorin", disse Nahiri em uma voz que percorria todas as pedras, fazendo parecer que vinha de todos os lugares ao mesmo tempo ", você vai cumprir a sua promessa.Você vai voltar comigo para Zendikar - Você vai me ajudar a verificar as nossas medidas de contenção, e garantir que o Eldrazi estão presos. Só então eu permitirei que você escape ".

Sorin cuspiu.

Então ele sentiu.

Além da espada de Nahiri, e do final que ela prometia, as nuvens negras agitaram-se acima deles, e, enquanto ele observava, uma lança de luz cortou o cinza. As nuvens se abriram, e um cometa prateado atravessou a abertura.

Avacyn. 

Sua Avacyn. 

Ela tinha vindo para proteger Innistrad de uma ameaça extra planar, exatamente como ele a tinha criado para fazer.

De início, Nahiri não pareceu notar. E quando o fez, só teve tempo para ser atingida pelo arcanjo, com tal força, que foi arrancada da coluna de pedra.

Sorin assistiu enquanto elas rasgavam uma cratera profunda na terra onde caíram. 

As inúmeras pedras suspensas desabaram  para o chão.

Quando, finalmente tudo se acalmou, foi Avacyn quem se levantou primeiro. Ela ergueu a lança, e luz floresceu ao longo dos seus pontos individuais, crescendo em intensidade até se tornar quase demasiado brilhante para ser vista.

Sorin protegeu os olhos, enquanto Nahiri era engolida pela terra, no exato momento em que o arcanjo atacou com sua lança - Quando as pontas tocaram na rocha exposta, a superfície explodiu em uma nuvem de pedra quebrada e poeira, e Avacyn foi forçada a proteger o rosto com os braços.

De onde estava, Sorin precisou de alguns momentos para perceber o que estava acontecendo. Através da poeira ele viu Nahiri desferindo uma chuva de golpes com sua espada, que ainda brilhava.

A lâmina cortou o ar, deixando rastos de luz laranja. Faíscas saltaram da lança de Avacyn quando ela bloqueou o ataque. Mas os golpes eram muitos, e muito ferozes. Logo, Avacyn bateu em retirada. Ela tentou voar, mas Nahiri levantou-se acima dela em outra coluna de pedra, forçando o arcanjo de volta para o chão com seu ataque implacável.

Nahiri destruiria Avacyn. O pensamento surgiu na mente de Sorin, mais como um vislumbre da realidade,  de que como uma possibilidade. Não! Criar Avacyn tinha demandado muito si, para deixar Nahiri simplesmente acabar com ela assim.

Com a força que conseguiu reunir, ele se jogou para a frente. "Basta!" Ele murmurou, e quando a espada de Nahiri formou um arco para baixo novamente, bateu contra a  arma de Sorin.

"Basta!", disse ele novamente.

Por um momento, os dois Planeswalkers permaneceram face a face,  lâmina contra lâmina. Sorin a estudou – seus olhos estavam fixos em Avacyn, e naqueles olhos Sorin reconheceu confusão.

"O que é isso, Sorin?" Nahiri disse entre dentes cerrados. "Como você conseguiu escravizar um anjo? Quem é ela?"

"A outra metade", Sorin respondeu. Ele tocou a espada de Nahiri. A lâmina quente fez um chiado agudo quando seus dedos se fecharam em torno de sua luz, e, enquanto Nahiri lutava para libertá-la, Sorin encostou a ponta de sua espada na garganta dela.

Estrias de suor marcavam a poeira que se agarrava à sua pele, e seus traços havia assumido uma Semblante grave.

Nahiri largou a espada, e Sorin jogou-a  para longe.

Atrás dele, Sorin sentiu a energia Avacyn, e ele levantou uma mão ordenando-a que parasse.

Então, para sua antiga protegida, ele disse: 

"Fique sabendo, jovem, eu nunca quis isso ".

__

Sorin? "Olivia disse. 

Ouvir o nome dele fez Sorin perceber o silêncio que havia aumentado e preenchido a sala nos longos momentos desde que ele falou pela última vez.

" Sorin ", Olivia disse de novo." Quem é essa ameaça? Ou melhor, o que você fez? "

"Muito. Não o suficiente", disse ele, olhando para a mesa de banquete preta. Sua mente ainda estava repetindo os eventos de séculos atrás.

"Vamos, Sorin. Você não pode decidir tornar-se enigmático na melhor parte." 

Sorin se virou para ela, mas não disse nada, mesmo quando aquele sorriso típico dela encontrou o caminho de volta para seu rosto. 

"Devo admitir que você despertou meu interesse. Qualquer coisa que te deixe desse jeito, me é cativante. Mas você veio até mim, Sorin. Então me diga, o que posso fazer por você?"

Em um instante, o nevoeiro do passado evaporou-se. "Invoque o poder de sua linhagem, Olivia. O que sobrou dos Markovs já está se reunindo. Juntos, nosso poder combinado pode enfrentar essa ameaça."

"Por que eu deveria? Por que eu não deveria me aliar com esta ... ameaça? Ilumine-me, como eu me beneficiari-"

Ela parou no meio da frase e, de repente soltou uma risada que parecia em desacordo com sua voz melodiosa. Seus olhos brilharam com uma alegria frenética que Sorin reconheceu como o olhar destinado à uma presa.

"Oh, Sorin," ela disse recuperando a compostura. "Eu vou ajudá-lo. Mas, primeiro... você vai me ajudar."

Fonte: http://ligamagic.com.br/?view=blog/viewPost&fid=6334

Lore Ep.06 - O Templo dos Náufragos

O Templo dos Náufragos

Sombras em Innistrad


Ainda era noite quando ele chegou em Gavony. 

No céu, a lua do caçador brilhava sobre o manto de chuva fina que envolvia as charnecas.

Jace Beleren, o Pacto das Guildas Vivo de Ravnica, o mago mental
extraordinário, se arrastava através da chuva em silêncio. Seu comando sem paralelo sobre a telepatia tinha pouca serventia pelas trilhas escorregadias. Ele, no entanto, encontrou algum conforto em estar longe das ilusões da Mansão Markov. Sua compostura e pensamentos tinham se clareado - pelo menos por agora.

Nas brumas, uma luz conjurada fornecia visibilidade para pouco mais do que alguns pés na frente dele.

 Ele não podia arriscar mais do que isso.

"Um mundo cheio de sombras e fantasmas ... e eu sou o tolo que as persegue" , Jace pensou em voz alta, os pés afogando-se dentro de botas cheias de água de chuva.

Ele voltou seu pensamento para as marchas sob a orientação  de seus companheiros em Zendikar. O silêncio e a solidão de sua jornada haviam começado a se tornar opressivos sem eles. Ele pensou nos padrões familiares e distintos de seus pensamentos, os sons de suas vozes. A boca de Jace se contraiu involuntariamente, a ajuda deles seria bem vinda.

Ele fechou a capa em torno de si. Com as mãos sentiu o peso do livro no seu bolso. Um volume compacto, encadernado em couro escuro, mantido fechado por um fecho delicado de metal. O rosto pálido da moonfolk cujo rosto ele tinha visto na mansão brilhou em sua mente. "Meu companheiro de papel", ele pensou ironicamente.

Ele passou um dedo cauteloso sobre a tampa do fecho. Ele abriu o livro. As páginas se espalharam, pálidas, revelando uma caligrafia impossivelmente bela, ladeada por números aninhados ordenadamente dentro de tabelas detalhadas.

Jace exalou lentamente, e puxou o capuz sobre o livro para protegê-lo da chuva fina, enquanto virava as páginas com cuidado.

Desenhos intrincados enchiam a próxima página -  a asa de um anjo, cada pena descrita de forma meticulosamente detalhada. Uma tabela de círculos delicadamente sombreados sob o título "Composição material da Lua Heron." Uma imagem de página inteira de uma criatura metade homem, metade lobo, imediatamente reconhecida por Jace como o mesmo tipo  que o  guia infeliz da outra noite.

"Bem, estranho - Diga-me seus segredos," Jace disse, enquanto limpou a sujeira de uma rocha próxima, sentou-se e começou a ler.

___

·         Entrada 433, Lua da colheita:

Um cavaleiro estóico, em vestes cinzas, chegou no meu estudo inesperadamente esta manhã, trazendo com ele uma curiosa entrega - Um pacote embrulhado em sacos de estopa, maior do que um ser humano, que exigiu nossos esforços conjuntos para ser descarregado e posto do observatório. 

O cavaleiro falou pouco, mas apontou com uma bota com ponta suja para o rótulo escrito no Rabisco de Jenrik: "Espécime para inspeção imediata".

Assim que eu removi o embrulho, minha respiração ficou presa na garganta, quando eu vi pelo, em seguida, garras, e, então o focinho lupino - um lobisomem. Um exame superficial revelou que ele era muito maior e mais completo do que qualquer outra amostra de seu tipo que já tenha passado pelas minhas mãos. Para minha grande surpresa, o cadáver estava gelado, indicando que tinha sido morto já há algum tempo. A reversão post-mortem de cadáveres licantropos às suas formas humanas era um fato bem conhecido, o que tornava mais evidente a contradição no espécime diante dos meus olhos. 

Apesar de bastante ansiosa para começar o meu trabalho, eu solicitei um recibo confirmando o momento da entrega, ele assinou simplesmente "R. Karolus."

O espécime foi purificado, drenado, e rotulado, e eu comecei a análise pela seção anterior esquerda. 

Grandes quantidades de pelo grosso foram primeiramente removidas, revelando a derme da amostra.

Embora seja habitual em tais procedimentos cobrir o rosto da amostra, tanto para protegê-lo de danos durante o exame, quanto para disposições mais delicadas, eu não pude evitar de observar sua expressão - Olhos arregalados e fixos, a boca aberta. Ele parecia estar focado em algo além do matador na frente dele em seus últimos momentos... 

Muito provavelmente, como tantos que eu tinha visto antes, deveria estar chamando a Lua.

A expressão da besta me trouxe à mente as palavras de Jenrik. "O meio exato pelo qual uma pessoa é submetida à maldição da licantropia é desconhecido", ele disse, "Estando intimamente ligada à natureza básica de cada licantropo, a visão da lua enche-os com selvageria insuportável e força, embora o toque de sua prata seja venenoso para eles. "

Eu ainda recordo vividamente meus primeiros dias em Innistrad, um lugar de noites aparentemente intermináveis – o lugar perfeito para meus estudos lunares. Enquanto eu olhava para o Heron, tão perfeitamente completo, claro e brilhante, uma arrebatadora ... selvageria florescia em meu coração também. Talvez fosse a memória viva de um passado nas nuvens. Talvez houvesse algo invejável no licantropo, que não tinha medo de se entregar à selvageria. Talvez eles conheçam um êxtase que nós nunca conheceremos, das marés prateadas de magia lunar correndo em suas veias.

Uma caneta havia tentado riscar os três parágrafos acima, embora a profundidade das marcas os tornassem legíveis, sob a luz conjurada de Jace. A entrada continuava:

A coloração padrão de uma Alcateia da província de Galvony era visível sobre a mandíbula superior. A área estava marcada pela presença de tecido conjuntivo fibroso, que tinha se enrolado ao redor dos dentes. O fechamento da mandíbula era provavelmente impossível no momento da morte.

Após a perda de três bisturis de prata abençoada, tentativas de fazer a primeira incisão na cavidade torácica, fizeram necessária a utilização de ferramentas mais pesadas, particularmente uma serra de lenhador que tinha sido apressadamente revestida e abençoada por missionários Avacynianos na cidade mais próxima. Com grande esforço, a caixa torácica foi separada, o espécime se partiu da clavícula à pelve, o seu conteúdo exposto ao ar.

Eu sempre admirei o interior ordenado dos licantropos - órgãos separados ordenadamente, envoltos em membranas, vasos ramificados  fazendo caminhos perfeitos por toda parte, pulmões enormes para se comunicar com os seus através de grandes distâncias e para perseguições em disparada, um fígado implacavelmente eficaz para processar a carne de suas presas dentro de minutos, glândulas supra-renais muito vascularizadas, preparadas para derramar o seu conteúdo na corrente sanguínea. Uma reflexão oblíqua, enfim, sobre a forma humana, elevada ao ideal de um predador.

Este, no entanto. Este era... diferente....

De fato, pouco, ou nada, da forma humana permanecera  dentro dele.

O interior peritoneal fora preenchido por uma rede de tendões duros, de diferentes espessuras, que tinham crescido de tal forma que empurravam de lado muitos dos órgãos. Se o animal parecia maior que o normal, uma parcela significativa deste volume era provavelmente por causa disso.

Em alguns pontos, eles se conectavam, agrupando-se em nódulos grossos.

O maior “bolo” residia no que costumava ser o fígado do animal, inchado para quase o dobro do seu tamanho habitual.

O órgão emitiu um odor salgado, sujo, podre, e facilmente detectável, apesar da minha máscara exame. Eu encontrei-me surpreendentemente relutantes em extirpar a coisa, embora a curiosidade tenha, rapidamente, conquistado o desgosto.

As metades separaram-se, deixando um objeto duro, redondo, incrustado em uma das bandas (não muito diferente do caroço de um pêssego cortado, por exemplo). Elas revelaram uma massa esponjosa de tendões torcidos, e o caroço, que parecia ser três dentes quebrados e fios espessos de pelo cinza.

Eu o rolei para cima.

Não, não era um “caroço” mas um olho lupino amarelo. Que provavelmente estava apontando para o céu, como os que se encontravam nas órbitas da cabeça.

___

Jace olhou para cima e fez uma careta involuntária. 

Absorvido pelo texto, ele não tinha notado que a névoa tinha clareado pela frente. A lua iluminou o seu caminho, refletindo-se no pântano raso, revelando a silhueta de um monólito retorcido.


Tinha, aproximadamente, a sua altura.  Fora formado a partir de pedra bruta extraída da terra, que se retorcia em uma forma de arestas duras. Olhando para sua ponta, Jace observou que a formação apontava para outra, da mesma aparência, há algumas centenas de metros de distância, que, por sua vez, apontava para outra, e outra, até desaparecerem de vista à distância.

Até as árvores espelhavam o direcionamento dos monólitos.

Pelo o que poderia ter sido a primeira vez desde que chegara Innistrad, Jace sorriu, e uma onda de alívio tomou conta dele. Talvez algumas coisas fossem começar a fazer sentido.

O monólito era inconfundivelmente o mesmo que aqueles que ele tinha visto na mansão, e o mesmo que ele tinha visto no diário.

"E você, meu companheiro de papel, o que você sabe sobre isso?" Ele ansiosamente folheou as páginas, até encontrar a imagem das mesmas pedras torcidas. Uma entrada seguia:

Entrada 643, lua do caçador:

A análise alquímica das formações criptolíticas dos páramos foi concluída hoje. Ela indica um número de características excepcionais nas amostras recebidas, incluindo dureza de superfície elevada, e um campo de energia direcional ao longo do eixo de torção. Curiosamente, a inspeção das estrias sugere um material que só recentemente emergiu da terra. Em contraste, a análise cristalina parece indicar que as amostras são muito mais velhas do que todas as outras formações geológicas encontradas dentro da área.

Jace assentiu. "Nenhum método que eu conheça bem, mas eu gosto do seu método." Ele sentia falta da conveniência de ler mentes.

A força do campo magnetico interno em cada monólito é capaz de distorcer as linhas do campo locais e os pólos. Ao longo do tempo, temos recebido mais relatos destas formações, o que está causando uma migração de foco de energia em rede, deslocando nossos pólos. As propriedades de influência das pedras parecem estenderem-se, também, para a capacidade de deformar o fluxo de mana através da região, com efeitos potencialmente graves para os seres compostos de mana, especialmente os  anjos do Plano. Talvez haja algo mais, por trás da loucura de Avacyn ...

Jace estendeu a parte de trás da sua mão para o fundo do monólito. Era Liso e frio, com uma rede sutil de algum outro mineral lustroso, enredada em sua superfície.

Uma cintilação na ponta chamou sua atenção. Quando ele esticou a mão, para toca-la, houve um “POP” e uma faísca saltou do monólito para sua mão. Jace puxou a mão para trás, e um rastro fino de fumaça branca subiu de sua luva. Uma sensação "brilhante"  abateu-se em seus sentidos, e, em seguida, rapidamente se desvaneceu.

"AH! Sangue de Azor, o que foi isso!" Seus pensamentos voltaram-se imediatamente para o livro, e ele o embalou na dobra do braço. "Você ... você está bem?" Ele perguntou, enquanto o examinava procurando marcas de queimaduras.

"Bem, você descobriu o que essas coisas de fato ... fazem? O que vamos fazer com isso? Estou apenas seguindo o rastro de alguém até outra armadilha ou ...?" Jace apontou um olhar penetrante para as páginas da revista.

"Ou será que foi isso o que aconteceu com você?"

O livro, é claro, não disse nada.

O páramo ficou em silêncio, exceto por um zumbido crescente de insetos do pântano. Jace voltou à leitura.

Entrada 735, lua do caçador:

A semana anterior trouxe relatos do enviados pelo Censo de Gavony, dando conta do aumento contínuo em mortes relacionadas com lobisomens, confirmados por matadores independentes. Os números excedem, em muito, a média presa/predador  prevista por Jenrik e Lotka.

Jace já tinha se acostumado com alguns termos. "Presa" não era um que caía particularmente bem com ele.

Desde então, as estradas para o observatório foram bloqueadas, e tem sido difícil obter mais informações. Muitos dos nossos colegas barricaram-se em suas casas e abandonaram seus trabalhos. Os recursos tornaram-se escassos, mas continuo determinada a continuar meus registros.

O comportamento alimentar dos habitantes sobrenaturais de Innistrad está intimamente ligado aos movimentos regulares da lua-heron. Como um condutor celestial, ela comanda os movimentos misteriosos dos impulsos em corações primitivos, que levam à transformação ou assassinato, com as mudanças de suas marés.

Como os nossos colegas em Kessig, que tinham testemunhado a selvageria renovada dos licantropos, aqui em Nephalia também nós registramos sinais da má-infuencia da Lua (ver Tabela 6-32). Os oceanos subiram em marés recorde,  além de apresentarem uma mudança na sua direção-

Jace se debruçou sobre as tabelas da página com um olhar que teria feito Lavinia orgulhosa, se ela visse ele fazer a mesma coisa no desempenho de suas obrigações como o Pacto das Guildas.

-apesar de experimentos realizados em triplo esforço, ultrapassando limites de tolerância de erros. A força gravitacional que regula o movimento das marés parece ter mudado, da própria lua, para uma localização muito perto do mar-

"Espere um segundo. Como assim?," Jace disse indignado às páginas manuscritas. "Eu vi Kiora mover todo o Mar de Halimar." (Ou pelo menos tentar, observou ele.) "E ... e mesmo que fosse algo que pudesse mover as marés, teria de ser enorme. De nenhuma maneira tal coisa poderia ter passado despercebida!".

Medições recentes de durações das fases lunares mostraram alterações assimétricas. A implicação é que a própria órbita da lua está sendo puxada em alguma direção por um objeto muito grande, próximo e ainda invisível aos olhos humanóides.

Jace observou o céu noturno. Uma lua solitária olhou de volta, de sua cama de constelações nebulosas.

Ele sondou, procurou por sinais reveladores de alguma ilusão mágica... nada. 

"Você ... você tem certeza disso? O que acontecerá quando ela atingir a superfície do plano? Nós apenas vamos esperar, ver, e torcer, enquanto essa coisa cai em direção a nós?"

Curiosamente, ambos os vectores de maré e da distorção do campo fornecem focos idênticos que podem ser rastreados para as mesmas coordenadas - um grande recife, um cemitério de navios, ao largo da costa de Nephalia.

Com as velas piscando sobre a minha caneta, eu me lembro das luzes dos ritos Soratami da Lua Nova. Nós segurávamos nossas lanternas como nossos antepassados -  balizas orientando cada lua nova a subir do mar de nuvens.

Qual o papel desse recife?

Cada um dos meus estudos parece trazer mais questionamentos. Para cada resposta, três perguntas ...

Mais perguntas, perguntas intermináveis.

Mais pistas, ainda sem respostas. 

Jace fechou e abriu os punhos, cheios de energia nervosa. As pistas eram irritantes - nada para ouvir, compreender, ou saber por conta própria. Até mesmo seus próprios olhos pareciam inúteis. Ele não tinha escolha, a não ser deixar o livro mostrar o caminho.

"Por que você não está aqui, em pessoa? Eu tenho tantas perguntas ..." Jace deu um suspiro para o livro. 

Silêncio. 

"Claro. Sonhar não custa nada".

O texto das páginas olhou para ele, desafiando-o a reler suas palavras finais. "Eu sei, eu sei. Nós encontramos uma trilha nas pedras, eu vou... er... nós vamos segui-la. Eu só ... Eu gostaria de saber melhor o do que se trata? Trilha ou armadilha, para o que você está me levando? "

___

O caminho para Nephalia terminava na base das suas falésias, e, dali,  ele podia ver os telhados da cidade portuária de Selhoff . 

Um caminho estreito precipitava-se até o lado do penhasco, e Jace logo encontrou-se prendendo a respiração enquanto descia o declive íngreme.

Jace ia apalpando o seu caminho em torno de uma curva, quando quase colidiu com uma pescadora.

"Oh! Desculpe, eu não vi você "

Seus olhos fitando os dele- um olhar fixo, sem piscar.

"Então ... mais um para ouvir o chamado dela, hmm?" ela perguntou, suas palavras caindo lentamente. "Você veio para vê-la também?" Um tom estranho de alegria penetrou em sua voz. "Muitos chegaram hoje!"

"Vê-la? Ver quem?"

"Ela está finalmente aqui! Desceu com os seus do céu, a maré veio com eles! Transbordou a barragem, lavou tudo embora!"

Ah, claro, pensou Jace – o livro tinha mencionado os níveis de maré alta. "Você viu as marés mudarem, também?"

"Oh, não tínhamos necessidade pra essas coisas  -nós encontramos ... algo muito maior do que nós! Pense em todas essas coisas que estamos segurando, pesando-nos para baixo. Viver nestes reservatórios de carne, transportando nossas preocupações, dia após dia. Ela está lá em cima agora, esperando por nós, esperando para tirar tudo isso de nós, para inaugurar um novo mundo! "

"Calma, por favor ..." ela "? Quem é" ela "? O que ela está trazendo?"

A pescadora soltou uma risada demorada. "Eu era como você. É um fardo terrível. Tantas perguntas, afogando-se em perguntas e as respostas nunca são o bastante! Agora eu estou livre delas, foram limpas da minha mente como o mar lava os naufrágios. Mas antes? queria saber ... coisas. muitas coisas! Qual é o meu propósito maior e eu irei alcançá-lo? Como vou morrer? Quando vai acabar inverno? Para onde  os olhos estão  olhando? Quantos olhos? Quantas pernas na lua? "

Palavras sem sentido fluíam de sua boca, sem parar,  até que estava ofegante como um peixe fora d´agua.

Jace tinha ouvido o suficiente, ele não iria chegar muito longe com aquela conversa, mas ele precisava de alguma informação. Com um gesto, Jace estendeu a sua mente aos pensamentos dela.


O primeiro pensamento que ele captou, dissolveu-se em uma nuvem de vapor azul. 

O segundo era apenas uma colagem de imagens – pedras torcidas e algo escuro e turvo ... o mar? Cada pensamento parecia estranhamente vazio, sem forma. Ele franziu a testa - isso exigiria medidas mais drásticas. 

Ele abriu os próprios pensamentos, e ligou as duas mentes ...

... E encontrou uma calma maçante, cinzenta, que tomou a forma de paredes suavemente curvas, perfeitas. O telhado da cúpula era igualmente suave e sem traços característicos. Sem portas, sem entradas, sem saídas. Ele olhou para baixo, esperando ver as mãos da pescadora. Tudo o que viu foram as suas próprias mãos e suas vestes azuis. 

Jace praguejou silenciosamente.

Eles estavam presos dentro da mente dela. O pânico estava começando a se estabelecer, transformando o silêncio em um estridente zumbido nos ouvidos. Respirações profundas. Isto era inesperado ....

Jace se moveu lentamente em torno do perímetro da cúpula, sentindo a parede, procurando rachaduras ou imperfeições. Não encontrou nada. Tentando suprimir o pânico crescente, inclinou-se contra uma parede e olhou para o centro da sala.

Alguma ... coisa  pairava no ar. Não, não era alguma coisa, era nenhuma coisa. Um ponto cego no espaço, imutável.

Ele já tinha alterado mentes antes, incutido visões selvagens e distorcido verdades. Mas ele certamente nunca tinha criado uma dessas distorções antes. Não, aquilo era real e verdadeiro, ele tinha certeza disso. Ele poderia provar isso.

Ele respirou fundo, plantou os pés firmemente, fez um punho, polegar para fora, como Gideon tinha pacientemente ensinado, e deu um soco na parede.

O impacto ressoou de volta através de seu corpo, e o choque através de seus nervos atirou-o para trás. 

As paredes vibraram como um diapasão, cada onda tilintando através do cérebro de Jace.

Seus olhos moveram-se em direção ao centro da sala. O ponto cego havia aumentado para se tornar um objeto muito maior do que o próprio Jace, quase tocando o chão e teto no interior da cúpula.

Ele fechou os olhos com força, agarrando a cabeça, tentando manter a calma e se concentrar.

"Bem construído."

Os olhos de Jace se abriram. Lá estava outra figura encapuzada, em robes azuis, cercada por uma luminescência pálida, com a mão no queixo, olhando pensativamente para o objeto. Parecia com ... Jace. Ou, mais precisamente, uma de suas duplicatas ilusórias.

"Nós nunca vimos um lugar como este antes, né? Os pensamentos são uma confusão, o lugar está simplesmente vazio.... É fascinante! O que você acha que está dentro desta coisa?"

Jace ficou boquiaberto com a duplicata encapuzada, palavras começaram a se formar em sua boca, mas ele não disse nada. Ele tinha certeza de que ele não o tinha conjurado. Ou o fizera instintivamente? Ele não conseguia se lembrar. Seria um efeito de seu aprisionamento na mente de outra pessoa?

"Ah, vamos lá! Estamos tão perto agora!" disse outra voz. Jace se virou para ver uma segunda duplicata de si mesmo, esta não tinha capuz, e sua pele era pálida como a lua. "Não temos tempo para perder com essa pobre mulher! Estamos quase no cemitério de navios!!!"

A cópia com capuz lançou um olhar gelado sobre a segunda. "E faremos o quê? Seguiremos mais destas anomalias? Estou cansado de todos esses becos sem saída! Tem que haver alguém por aqui que saiba o significado de tudo isso!"

A cópia com capuz colocou as duas mãos na sua testa e olhou intensamente para o objeto. Seu rosto ficou vermelho e duas veias incharam comicamente em sua testa. Ele começou a suar profusamente.

Jace fez uma careta, assistindo-se com uma auto-consciência angustiante.

"Você realmente se parece com isso, sabe?" Era uma terceira duplicata, esta tinha os olhos violeta e sorria. Ela sussurrou algo no ouvido do segundo, o pálido, e os dois riram, apontando para o primeiro, que ainda estava em profunda concentração.

O pálido recompôs-se, e colocou uma mão no ombro de Jace.

"Meses, não, anos, de estudos físicos, observações, medições! Você está tão perto de me ajudar a completar meus registros!" Ele  puxou o braço de Jace com fervorosa insistência, impaciente.

O objeto, agora impossivelmente, ameaçadoramente, grande, olhou para Jace. As paredes lisas da Câmara se deformavam e curvavam sob a tração do objeto, então dobraram-se com um estalo alto. 

Fragmentos das paredes caíram, revelando uma estrutura similar a uma teia de aranha. Uma miríade de olhos abriram-se dentro das paredes, olhando através de Jace e da pescadora, para o objeto, em êxtase. Vozes por trás das paredes rugiam com um ruído branco que perfurou os sentidos de Jace e o derrubou de joelhos. O piso, rachou. Embora ele já não pudesse mais ouvir nada, ele sentiu o chão cedendo sob o seu peso, e percebeu que ele estava cain-

Sues olhos se abriram para encontrar suas mãos sobre a cabeça, o corpo enrolado no chão. Enquanto examinava o mundo ao redor, a forma e a substância daquelas paredes permaneceram assombrando sua mente.

A pescadora tropeçou quando voltou a si, encarando Jace por um breve segundo. Depois de alguns murmúrios inaudíveis, ela ficou de pé com um grunhido gutural e correu para pelo caminho, para longe da costa.

Ele mal notou a partida dela,  e continuou sua escalada, imerso em pensamentos.

__

A trilha terminou nas costas rochosas ao norte do recife, perto de um pequeno posto avançado de pesca. As barragens, como a pescadora tinha dito, estavam de fato quase um pé debaixo d'água, e uma camada grossa  de lodo marinho podre revestia o que outrora fora a doca e seus navios.

Botas coberto de lodo e areia, Jace entrou na água rasa e deixou as ondas passarem sobre seus pés. Enquanto esperava o recuo das ondas, ele percebeu que a água estava se movendo paralelamente à costa, não para dentro do mar.

Algo na praia realmente mudara o movimento normal das ondas.

Ao Sul da vila, a luz da lua brilhou sobre um anel enorme de estruturas irregulares que se projetavam a partir do oceano, arranhando as ondas e a passagem dos navios.

"O cemitério de navios," Jace respirou. "É isso! Todos os criptolitos apontam para cá!"

Acima do anel irregular havia ... nada?

Ele tinha se preparado para um monte de coisas. Mas nada? 

"Achei que você tinha me prometido alguma coisa aqui! Você me disse que eu iria encontrar alguma coisa!" Jace rapidamente pescou o diário do bolso e o abriu.

Resumindo o conjunto inicial de observações, a melhor explicação é - migração súbita de um grande objeto celeste, cada vez mais próximo de Innistrad.

Ele olhou para o anel vazio, inacabada de pedras, em dúvida. Grande, mas certamente não é o que ele classificaria como grande no sentido de "objeto celeste". E o espaço acima do anel parecia ser apenas isso -  espaço. Vazio. "Uh, exatamente o quão grande você estava pensando que essa coisa seria?"

Analisados na totalidade, os resultados apresentados neste trabalho indicam a presença de um objecto de massa significativa. O mais provável é um novo corpo astral, uma "lua fantasma" de tamanho suficiente para criar uma força gravitacional capaz de perturbar os padrões normais tanto das marés, quanto da energia mágica.

"Corpo astral? Uma lua?" Jace olhou para a área vazia acima do anel. Havia outro ilusionista escondido nas proximidades? Ele não sentia nada parecido com um grande corpo...

estudos de campo serão organizados para investigar futuramente.

Jace folheou para a frente, mas não encontrou mais nada sobre o tema. "Você não pode parar agora! Estamos tão perto! Diga-me! Diga-me o que isso significa!" Ele agarrou a coluna de couro e sacudiu o livro com mais força do que ele pretendia.

Flashes de movimento chamaram sua atenção. Olhando com atenção, ele pode perceber uma longa procissão de humanoides no oceano, com água na altura dos ombros.

Zumbis.

Mais especificamente, os corpos de marinheiros náufragos, depositados no recife de Nephalia há muito tempo.

Ele percebeu com algum desgosto que o fedor no ar não era de peixe, na verdade, ele vinha deles.

A memória dos zumbis de Liliana, suas mãos frias e apodrecidas em sua traqueia, apareceu em sua mente.

Jace fez um gesto e três duplicatas apareceram em torno dele.

A visão dos zumbis trouxe de volta as palavras de Liliana. "Este é um beco sem saída. Vá para casa, Jace!" ela havia dito a ele.

"Não-!" Ele insistiu em voz alta, com uma veemência que o surpreendeu.

Seus pensamentos eram demasiadamente altos. “Calma, Beleren”, ele instruiu a si mesmo.

Não, ele não poderia voltar atrás. Ainda não. Não quando estava tão próximo de resolver o mistério do diário.

Jace rangeu os dentes ao sentir o frio do oceano , mas entrou na água, mantendo distância da procissão zumbi. As formações de pedra aqui eram semelhantes aos que tinha visto nas charnecas, ainda que estas fossem muito maiores em escala, e vibrando com energia. Suas formas torcidas terminando em pontas afiladas, cada um deles  apontando para o centro do círculo.

Algumas das pedras se projetavam acima das águas rasas, longe da procissão que se reunira no centro do círculo. Jace fez o seu caminho em direção a uma delas e estendeu a mão para traçar a direção da pedra na luz fraca.

Um choque de energia saltou da superfície da pedra para Jace com um estalo alto, preenchendo sua cabeça com um ruído familiar.

Ele levantou a cabeça lentamente. Uma memória veio.

Um ponto cego, o objeto, apareceu em sua visão, pairando um pouco acima do círculo de pedras na distância. Ele pulsava com poder, sobre a teia brilhante de monólitos abaixo dele. 

Este era o nexo de leylines redirecionadas de Innistrad, o centro de coleta de energia desviada.

"Você nunca foi capaz de controlar essas suas mãos, Beleren. Você realmente tinha que deixar essa coisa te acertar de novo?" A voz veio de cima de seu ombro.

Um rosto surgiu por cima do ombro de Jace e rolou seus olhos violeta. "Para um mago famoso por sua perspicácia, você já teve momentos mais dignos." Uma mão estendeu-se para tocar-lhe na ponta do nariz com um dedo ilusório.

Era a duplicata de olhos violeta de seu aprisionamento mental, poucos minutos atrás.

Atrás dela estavam os outros, o com capuz e o pálido.

"O que vocês estão fazendo aqui?" Jace surtou. "Eu deixei você e o outro ..." ele apontou para os outros duplicados ", ... delírio errante na cabeça da mulher louca! Você não eram bem-vindos lá, e se vocês não vão me ajudar com.... Isso! "Jace gesticulou com raiva para a massa fétida de zumbis," considerem-se  “de-invocados!” "

"Não há necessidade de ficar na defensiva. Olha, você está fazendo um bom trabalho até!" A olhos violeta apontou em direção ao centro da formação, onde o pálido e o com capuz estavam avidamente avançando para o centro do círculo de pedras. Eles não pareciam notar ou se importar com a multidão de zumbis em seus caminhos.

"Volte aqui! Volte!!!!!!" Jace assobiou baixinho. "Sai daí, desgraçado!"

"Podemos finalmente concluir nossas medições! Como você dimensionaria estas amostras de pedra?" O duplicado pálido começou a perder a forma, seu rosto tomando contornos delicados, o cabelo amarrotado tornando-se duas tranças bem penteadas, mantidas no lugar pelo o que pareciam ser duas orelhas leporinas. Até tomar a forma de um soratami, um moonfolk de Kamigawa. O mesmo, ao que parecia, da visão que ele tivera na Mansão Markov, aquele que escrev-

"-o diário!" Jace estalou, agarrando o livro no bolso. "Quer dizer ... é você?"

"Provavelmente um novo corpo astral, uma lua fantasma de tamanho suficiente para proporcionar uma força gravitacional capaz de perturbar os padrões normais das marés e da energia mágica", a ilusão soratami falou, então,  com uma solenidade súbita. "Eu preciso que você se concentre, nós temos trabalho a fazer e... onde está sua bússola???" ela gritou para Jace enquanto caminhava em direção às pedras.

A segunda via com capuz já havia atingido a base do objeto. Ele estava parado e olhando para cima. 

"Assim como na mente do louca! Por que você nos tirou de lá? Agora nós nunca saberemos o que ela sabia!" O tom estridente da voz do duplicado começou a chamar a atenção dos zumbis. "Jace, olhe para cima!" ele gritou. "Eles estão aqui!"

quando Jace se virou, algo caiu sobre sua cabeça e depois rolou para o mar.

Pingos de chuva? Ele estendeu a mão e agarrou a próxima que caiu.

Penas? Caindo de uma sobrecarga de nuvem densa acima. 

Ele apertou os olhos. Não, não era uma nuvem...

Anjos.

Uma revoada tomava conta do céu, acima do centro do círculo, alguns rodando perto das criptolitas como mariposas perto de uma chama, gritando em tons ásperos, como pássaros. O som de batidas de asas maciças ecoava contra os rochedos e através de cabeça dolorida de Jace.

Ah, sim, ele tinha visto isto antes. As mesmas páginas que tinham descrito pela primeira vez os criptolitos, haviam descrito Avacyn, também. Um sinal, uma pista ... isso era algo, tinha que ser algo.

"criaturas de aparência impressionante, mas inúteis. Asas de pássaros e cérebros de pássaros", o duplicado de olhos violeta zombou, inclinando-se contra o ombro de Jace.

Abaixo do enxame, o duplicado com capuz olhava para cima, paralisado pela força inexorável do objeto.

Os anjos circulando acima. "O que puxa as marés?" Jace ouviu-o murmurar. "Zumbis ou anjos? Qual é o meu propósito, qual será meu fim? Muitas perguntas ..."

Ele avançou em direção ao centro do círculo de pedras torcidas, a água do mar gelada já em seu pescoço, com cabeça inclinada para trás, os olhos ainda firmemente focados para cima. Ele continuou se movendo obstinadamente para a frente, e as águas cobriram sua cabeça. 

Jace observou em silêncio enquanto o rosto do duplicado, seu rosto, desaparecia lentamente sob a superfície.

A voz falou sobre o ombro de Jace. "Você se lembra o que ela nos disse, não é?" Olhos violeta perguntou com uma sobrancelha levantada e um sorriso muito largo para ser sincero.

"oi?" Jace Beleren resmungou, sua garganta seca.

"Na primeira noite, quando você veio aqui para vê-la." A voz do duplicado tinha mudado. Era uma voz familiar agora...

Os contornos de sua forma ilusória mudaram sob o luar, e lentamente reorganizaram-se em uma forma familiar: Liliana Vess.

"Eu não vim aqui para vê-la! E-eu vim para encontrar Sorin!"

"Ela conhece você. Ela não iria pedir-lhe para vir aqui, cercada por mortos-vivos e aqueles ...", ela apontou uma mão para cima com desgosto "... ratos alado." A voz de Liliana tocou seus nervos como um arco de violinista arranha as cordas.

Jace parou... Claro. Ele sabia disso o tempo todo...

"Foi você! Você os trouxe aqui! Foi por isso que você enviou seus zumbis para cima de mim, por isso você me avisou sobre anjos quando eu cheguei?" Jace podia sentir o sangue subindo em seu rosto.

Ele a encarou. "Isto é obra sua! Você sempre os odiou, e você vem planejando isso há anos, não é? Foi você quem redirecionou as pedras para agrupar os anjos aqui e afetar suas mentes! Cordeiros ao abate - todos reunidos para que você possa exterminá-los um só golpe. Como você fez isso? o que você planejou? Você tem idéia do que fez? "

Sangue martelava nas suas têmporas; gotas de suor rolavam pela testa. "Responda-me! Eu não vou deixar você fazer me fazer de tolo!"

"Você não precisa da minha ajuda para isso, Jace. E você ... você sabe disso, não é?" Embora ilusórios, os olhos de Liliana eram do mesmo antigo e profundo violeta que ele bem conhecia, cheios de terríveis segredos, acumulados por muitas vidas de crueldade.

Palavras frustradas e acusações empilharam-se na garganta de Jace, enquanto ele olhava para o rosto sorridente da Liliana ilusória, mas quando ele começou a falar, ela, de repente, dissipou-se no ar frio da noite.

Jace fez o seu caminho de volta para a costa e sentou-se sozinho, tremendo no escuro. Suas vestes não podiam manter o frio longe de seus ossos, e os pés dormentes recusavam-se a recuperar o tato. 

Ele não estava ferido, mas estava abalado. Na frente dele, a procissão de fantasmas continuava, sem ser perturbada pela passagem dele.

Ele olhou para o círculo de pedras. O objeto tinha desaparecido.

Suas mãos tremendo procuraram o diário, mas pararam subitamente.

Perguntas ainda inundavam sua mente  -como Liliana mudou as marés, ou as pedras para começar? E a formação astral que o diário mencionara?

As palavras do livro permaneciam em sua mente: "Para cada resposta, três perguntas ..."

“Não”, uma voz reverberou por sua mente. “Pare de perguntar. Muitas perguntas sem resposta. Você não precisa do livro e seu poço sem fundo de mistérios. Eles vão te afogar”.  Jace empurrou o livro de lado. “Você veio até aqui. Você sabe a resposta. Pare de procurar.”

Ele repetiu as imagens em sua mente - incapaz de apagar o rosto de Liliana e seu sorriso zombeteiro.

"Anjos. Zumbis..."

A lua do caçador brilhava sozinha no céu, a sua aparente luz prateada purificando a terra e mar iluminados.

Jace sabia o que tinha que fazer.

 
Fonte: http://ligamagic.com.br/?view=blog/viewPost&fid=6307